Homilia Abertura da Rota 2020

Homilia da missa de abertura da Rota Nacional 2020

Gl 3, 22-29 – Sl 104 –  Lc 11, 27-29

Cachoeira Paulista, Santuário Pai das Misericórdias, 10 de outubro de 2020

 

Prezadas irmãs, prezados irmãos,

O primeiro sentimento que experimentamos ao terminar de escutar este trecho do evangelho segundo Lucas que acabamos de ouvir é de alegria. Alegria por nos sabermos bem-aventurados por ouvir e praticar a Palavra de Deus. E no sábado, dia especialmente dedicado à devoção à Virgem Maria, ouvirmos este trecho. Num primeiro momento, parece que o Senhor até despreza sua mãe. Na verdade, quando nos recordamos que, como o próprio evangelista Lucas nos ensina, Maria foi a primeira a ouvir a Palavra de Deus e concebê-la em seu coração, abrindo-se, assim, à maternidade virginal, compreendemos que é, sobretudo, a ela que se dirige a bem-aventurança que acabamos de escutar.

Ouvir a Palavra é fundamental, como sabemos, para vivermos como filhos de Deus. Não é possível trilhar os caminhos do Senhor sem nos alimentarmos de sua Palavra, de seu Corpo e de seu Sangue. Saber disso nos faz compreender melhor porque celebramos, juntos, a Eucaristia, no início desta Rota Nacional. Para deixar essa realidade mais clara, faço referência a um livro bastante conhecido: “As Duas Torres” do Senhor dos Anéis, do britânico Tolkien. Em seu texto, este autor nos fala das “lembas”: são o pão de viagem dos elfos. As lembas eram o pão que os alimentava em grandes jornadas. Proviam de forças os viajantes e também podiam ajudar a curar machucados ou doentes.

As características das lembas remetem-nos, pois, à Eucaristia. Tolkien, afinal, participava da missa todos os dias, na Igreja de São Luís Gonzaga, dos oratorianos de Oxford. O autor dizia, ainda, que o tal pão dos elfos era suficiente para todo um dia de caminhada. Mas, se não estivermos certos de que sem este Pão não somos capazes de viver a grande viagem que nos propõe o Evangelho, certamente não nos preocuparemos em dele nos alimentarmos. E não devemos nos surpreender, portanto, se não conseguirmos realizar tal viagem.

Além disso, nesta Eucaristia, e durante toda a Rota, agradecemos o Senhor, sobretudo, por duas grandes graças: primeiro, a graça de celebrar nesta ano de 2020 o centenário do escotismo católico. Há cem anos, sob o impulso do Servo de Deus Pe. Jacques Sevin, jesuíta francês que foi um dos principais arquitetos do escotismo católico, o escotismo, nascido da experiência, do gênio e do coração de Lord Robert Baden-Powell, ganhava dimensão eclesial e se tornava também um meio de evangelização da juventude e caminho de santidade.

O segunda graça: nossa Associação Guias e Exploradores do Brasil, movimento escoteiro católico brasileiro, passará a pertencer à Federação do Escotismo Europeu, Associação Privada Internacional de Fieis, de Direito Pontifício, ou seja, reconhecida pela Santa Sé. A catolicidade e o seriedade da pedagogia de nossa Associação tornam-se ainda mais robustas com este passo, fruto do empenho dos Chefes, bem como de cada escoteiro, e do favor de Deus.

Com este espírito, irmãs e irmãos, já alimentados pela Palavra, que nos torna bem-aventurados, preparemo-nos para nos fortificar com o Corpo e o Sangue do Senhor, alimentos sem os quais não podemos caminhar como Cristo nos pede na grande Rota da vida.

Frei André Tavares, O.P.

Conselheiro Religioso Nacional – AG&E